Crônica de um domingo de praia.

Crônica de um domingo de praia.
Era certo, todos os domingos eu acordava as sete da manhã e chamava o meu amigo João de Dadinho para… Acordar!!! “Já vou”, dizia ele, “Já vou” e repetia isso quantas vezes fosse necessário até as 8 horas.
Morávamos juntos, dividíamos uma kitnet em campinas de Pirajá.
Neste intervalo - enquanto João se espreguiçava na cama – eu preparava a água oxigenada e o amoníaco.
Todos - na nossa idade – diga-se de passagem, levavam esse “elixir” para a praia.
Queríamos ficar com os pêlos loiros; só não me perguntem para quê? Acho que era moda.
(os loiros pegavam mais mulheres e as loiras faziam mais sucesso) Quem tinha grana, não precisava se preocupar com isso, comprava pronto nas farmácias.
Não era o nosso caso.
Meu e de João é claro: dois duros.
(Não importava) nosso desejo era chegar logo a praia de Piatã, onde encontrávamos os nossos conterrâneos de Feira de Santana, e alí, naquela bela farofa de frango e arroz, nos empanturrávamos até ficarmos “boiados”, como dizia a galera “das antigas”: boiados de prazer.
E arrisco dizer, que a farofa, era de fato, o nosso prato principal.
O nosso motivo maior.
A força que nos impelia a estar alí todos os domingos.
FAROFA! Ao sair, coloquei a água oxigenada e o amoníaco em um vasilhame de xampu, e partir com João para tomar o transporte no Largo de Campinas.
Pegamos um Pirajá x Itapoã da ITT.
Fui o primeiro a entrar.
Sentei em um elevado, ao lado da cadeira do cobrador, e de lá fiquei observando João, que não conseguiu assento.
João, ao contrário, foi pendurado na porta do buzu até a região de Jaqueira do Carneiro.
O ônibus estava socado.
E naquele dia parecia estar pior do que estávamos acostumados…De repente João olhou de maneira estranha para mim, fez sinal com os olhos de assustado e disparou: — Théo a água oxigenada! — Está ai na sua mochila, avisei sussurrando.
— Eu sei mais está muito quente, ponderou.
- É normal, concluir.
E tomei a mochila no colo.
Foi então, que percebi, a gravidade da situação.
Tínhamos que tomar uma decisão rápida! e como dois criminosos estabanados, tiramos o saco com o vasilhame, e colocamos embaixo da cadeira do cobrador.
Levantei do pequeno elevado e “me piquei” para o meio do buzu.
“Tinha uma bomba loira comigo! e eu não queria, de maneira alguma, ficar com aquilo na mão! ”.
Uma senhora senta justamente no lugar onde estava.
Pensei: “coitada, sabe de nada inocente”… e gentilmente pega as mochilas de duas garotas colocando-as despretensiosamente sobre o colo… A esta altura já estávamos na San Martins…De repente, ao passarmos em frente a garagem da São Luís - uma pequena explosão aconteceu embaixo da cadeira do cobrador.
Uma explosão suficientemente forte para causar um transtorno dos diabos no coletivo.
“A bomba loira! ” pensei.
Disfarçadamente olhei para o fundo do buzu e vi várias pessoas com espumas espalhadas por todo corpo.
Não contei conversa! Pisquei para João, dei sinal com os olhos e partimos a mil entre solavancos e empurrões: “PeraíMotô! Esse ponto é meu!!! Gritávamos.
E lá do fundo, para nosso azar o “terrorismo loiro”, era denunciado aos borbotões pelos passageiros: “Foi da bolsa dessa senhora”, gritou uma.
“NÃO…as bolsas são dessas duas aqui! ” disse outra, apontando o dedo para as jovens a sua frente.
”Como eu vou chegar ao trabalho agora desse jeito, parecendo uma maluca”, consternava-se outra.
E enquanto isso, enquanto a espuma se espalhava sobre todos nós, eu e João, entoávamos um cem número de “Com licença! É aqui motô! E Pára essa zorra que eu quero descer! ”.
Moral da história: as vezes é melhor não sair loiro do quê queimado E finalmente chegamos a praia de piatã.
Domingo 23 de Novembro de 1986

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