Capítulo 11 - O futuro da Humanidade.

Capítulo 11 - O futuro da Humanidade.
Marco Polo defendeu a sua tese com veemência.
Comentou que o principio da corresponsabilidade inevitável demonstra que as relações humanas são uma grande teia multifocal.
Revela que ninguém é uma ilha física, psíquica e social dentro da humanidade.
Todos somos influenciados pelos outros.
Todos os nossos atos, quer sejam conscientes ou inconscientes, quer sejam atitudes construtivas ou destrutivas, alteram os acontecimentos e o desenvolvimento da própria humanidade.
Qualquer ser humano – intelectual ou iletrado, rico ou pobre, médico ou paciente, ativista ou alienado – é afetado pela sociedade e, por sua vez, interfere nas conquistas e perdas da própria sociedade através de seus comportamentos.
Marco Polo queria dizer que todos são responsáveis pelo futuro da humanidade e, por conseqüência, pelo futuro da humanidade e do planeta como um todo.
– Nossos comportamentos afetam de três modos as pessoas: alteram o tempo delas; alteram a memória delas, através do registro desses comportamentos; e alteram a qualidade e freqüência das suas reações.
Alterando o tempo, a memória e as reações das pessoas, modificamos seu futuro, sua história.
Falcão começou a sair de estado de indiferença para o de assombro.
“Aonde esse garoto quer chegar?”, pensou.
Marco Polo foi mais longe.
Discorreu afirmando que os mínimos comportamentos podem interferir em grandes reações na História.
O espirro de um norte-americano pode afetar as reações das pessoas no Oriente Médio.
Uma atitude de um europeu, por mínima que seja, pode interferir no tempo e nas ações da China.
Falcão começava a entender aonde seu amigo queria chegar, mas ainda não estava completamente claro.
Observava atentamente cada uma das suas frases.
Marco Polo passou da teoria para os exemplos:
– O padeiro que fez pão no século XV em Paris afetou o tempo e a memória da dona de casa que o comprou, afetando as reações dos seus filhos, que, por sua vez, alteraram os comportamentos dos seus amigos, vizinhos, colegas de trabalho, e que, numa reação em cadeia, influenciaram a sociedade francesa da sua época e de outras gerações.
Assim, numa seqüência ininterrupta de eventos, o padeiro do século XV influenciou, séculos mais tarde, os pais, os amigos e, conseqüentemente a formação de personalidade de Napoleão, que afetou o mundo.
– Hitler, em 1908, mudou-se para Viena com o objetivo de se tornar pintor.
O professor da academia de belas-artes que o rejeitou afetou seu tempo, sua memória, seu inconsciente.
Por sua vez, influenciou sua afetividade, sua compreensão do mundo, seus reações, sua luta no partido nazista, sua prisão, seu livro.
Todo este processo interferiu na eclosão da Segunda Guerra Mundial, que afetou a Europa, o Japão, a Rússia, os EUA e que mudou os rumos da humanidade.
– Se Hitler tivesse sido aceito na escola de belas-artes, talvez tivéssemos tido um artista plástico, ainda que medíocre, e não um doa maiores psicopatas da história.
Não estou dizendo que a psicopatia de Hitler seria resolvida na inclusão na escola de Viena, mas poderia ser abrandada ou talvez não se manifestasse.
Falcão estava espantado.
Os papéis tinham se invertido.
Marco Polo falou ainda que um índio numa tribo isolada da Amazônia também afeta a História.
Ao abater um pássaro, este deixará de produzir vos, chocá-los e de ter descendentes, afetando o consumo de sementes, os predadores e toda a cadeia alimentar, o ecossistema, a biosfera terrestre.
Além disso, a ausência de descendentes do pássaro abatido, afetará o processo de observação dos biólogos, interferindo em sua reações, suas pesquisas, seus livros, sua universidade e sociedade.
Uma pessoa que se suicida não deixou de atuar no mundo social, afirmou Marco Polo.
O ato do suicídio alterou o tempo dos amigos, e parentes e, principalmente, despedaçou a emoção e a memória deles, gerando vácuo existencial, lembranças e pensamentos perturbadores que afetarão sua histórias e o futuro da sociedade.
– Ninguém desaparece quando morrer.
Viver com dignidade e morrer com dignidade deveriam ser tesouros cobiçados ansiosamente.
Portanto, o principio da corresponsabilidade inevitável demonstra que nunca podemos ser uma ilha na humanidade.
Jamais deveria haver a ilha dos norte-americanos, dos árabes, dos judeus, dos europeus.
A humanidade é uma família vivendo numa complexa teia.
Somos uma única espécie.
Deveríamos amá-la e cuidar dela mutuamente, caso contrário não sobreviveremos.

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