Não espere até que as luzes de atar cintos estejam apagadas
Não espere até que as luzes de atar cintos estejam apagadas.
Não existe nenhum sinal.
É a gente que tem que decidir a hora de levantar e deixar a cadeira vazia.
Liberar o coração do outro para as próximas viagens.
Deixar-se ir.
Preservar o respeito que resta para que ambos consigam sair de pé.
Para que não sejam só dois sobreviventes de um amor que não deu certo, para que não se tornem menos humanos depois de tolerar por tanto tempo o racionamento de esperança.
Para que não saiam amargos por implorar por paciência como quem mendiga um amendoim.
Não é preciso chegar a tanto.
Aperta o coração levantar, mas as vezes eu acho que devemos partir assim mesmo.
Com o coração apertado, pesado, moído, mas com a perspectiva de um futuro mais leve.
Sinto que o medo de fazer uma má-escolha nos mantém atados.
Como se a calmaria do pé no chão de todos os anos sozinha se tornasse insuportável.
Como se qualquer coisa fosse melhor do que encontrar o portão fechado, como tantas vezes aconteceu.
A porta está sempre aberta, mas ficamos presos à ideia de céu azul do primeiro encontro está logo ali na frente.
É como se a certeza da turbulência fosse melhor do que a dúvida.
Do que simplesmente não saber.
A gente embarcou por amor, mas permanece por apego, por carinho, pela necessidade de dar as respostas certas a perguntas que, muitas vezes, sequer foram feitas.
Toda vez que o amor balança, escuto um sinal de alerta dentro da minha cabeça.
Ignoro por costume, mas não é que silencie.
Não sei se é uma nuvem escura ou a entrada da tempestade.
Devia existir um limite mais claro para quando as bagagens dessa história se tornam pesadas demais.
Algum critério mais preciso para quem alterna entre o "eu amo" e o “isso não é pra mim” em questão de segundos.
Um comentário infeliz e o dia desanda irreversivelmente.
A gente pergunta para os amigos, compara histórias, repensa o passado, mas não encontra, nem vai encontrar, nada definitivo.
Restam poucas ilusões e a única certeza que se tem é que a rotina da guerra cansa.
Deveríamos estar flutuando.
Mas, quando a gente para para ver, estamos tensos, com as mãos suadas, morrendo de medo.
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