Prosa Poética: “O caipira João” Thaís Falleiros 21-06-2013

Prosa Poética: “O caipira João”
Thaís Falleiros 21-06-2013
Era uma vez um caipira, bem caipira sô
Humilde e tímido
Mas como diria minha avó, bem afeiçoado
Era Bicho-do-mato.
Neguinho calado
Mas de um coração que não cabia no peito
Peito esse que nunca ficava gelado
Graças ao coração
Até que um dia o menino envergonhado
Viu-se por uma rapariga muito da metida
Apaixonado.
Ah, a paixão e suas armadilhas!
É perigosa e inimiga numero um da razão.
O menino que sempre gostara de flores
Tirou uma, a mais bonita, do jardim,
Colocou-a num vazo de barro
Pequeno e nada vistoso
Estufou os pulmões e foi lá declarar
O amor que já não cabia no coração.
A moça muito da arrogante
Menina da cidade, estudada e viajada
Achou uma indignação.
Moço pobre me dando uma rosa inda em botão?
E num vazo, de barro, sujo e manchado?
Não podia não.
O moço ficou com as maças do rosto vermelhas
Como essas que vem lá das bandas da Argentina
Lugar longe e frio, onde todo mundo fala enrolado.
E a moça achou engraçado.
Desembestou a rir, até chorar.
Não parava mais.
Ah, isso não se faz não moça.
O Destino há de me vingar.
O moço foi-se embora com o vazo na mão.
Entrou na sua caminhonete velha que era na verdade de seu avô.
E foi embora para o sítio, lá no meio do mato, com as vacas e os cavalos.
Pois lá ninguém ria de suas fuças.
Era seu lugar no mundo.
A moça, poxa, não fez por mal não.
Apesar da sua estica
Do seu porte de moça rica, bem vestida e de joias na mão
Ela também havia de ter um coração.
E não é que no meio da noite a danada da inconsciência
Vinha lhe trazer em sonho, o moço caipira, bonitão?
E no dia, cada rosto parecia que era o tal João.
O tempo passou e essa doença não passou não
Nem na moça, nem no João
E a doença era nada mais nada menos, que paixão!
A moça muito da atirada, percebeu logo a sensação
Não perdeu tempo e foi no mato atrás de seu amado
Pedir-lhe desculpas e lhe dar uma explicação.
Mas no meio do caminho, quase chegando no portão
A moça que vinha em seu carro importado
Teve um piripaque e adivinha quem apareceu?
O Jão!
Estava sujo de terra, com cheiro de esterco de porco
Mas não teve tempo de pensar nessas besteiras
Pegou-a no colo com muito cuidado
Levou-a para a sala que estava desarrumada
E lhe fez respiração
Boca-a boca é claro, e a família toda viu
E todo mundo ficou calado.
A moça acordou já no meio da respiração
Que nessas alturas já era na verdade
Só o boca-a-boca.
E a paixão virou amor
E o amor virou um casal
A Maria e o João Junior, o Juninho
Que ficou caipira igual ao pai
E ela ficou dondoca igual à mãe.
Mas não faz mal
Tudo terminou como tinha que ser
A moça rica com o homem pobre
Que lhe tratou como rainha do sertão.
Graças ao destino, que vingou o moço
E lhe emprestou a sua mão.

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