NO LABORATÓRIO DA VIDA
NO LABORATÓRIO DA VIDA
A educação não precisa necessariamente se realizar dentro de uma sala de aula.
O cotidiano da vida é um excelente laboratório, em que se vão misturando doses de atitudes, ações e reações, até encontrar o aristotélico meio-termo.
Mas um dos ingredientes mais fundamentais de qualquer dessas misturas é, sem dúvida, o respeito.
O respeito tem que estar presente em qualquer experimento social - ou mesmo individual.
Isto porque, quem não tem amor-próprio, quem não se respeita, corre o risco de perder o sentido da vida.
A dignidade nasce do respeito que forma o caráter e determina uma vida condizente com ele.
Há numerosas histórias de pessoas que se encontraram em situações em que poderiam levar vantagem ilícita, sem que ninguém soubesse e sem que nunca fossem descobertas.
Os desfechos de algumas dessas histórias seguem a lógica da esperteza - "já que posso passar impune, por que não aproveitar a ocasião?" Outros seguem uma lógica mais profunda, que respeita a consciência.
- "Pode ser que ninguém veja, mas eu estou vendo" - reagirá aquele que se respeita.
Na ótica do laboratório vital, aquele que não se respeita não será respeitado.
Respeito é palavra que significa, na sua origem latina (respectus), a ação de olhar para trás.
A palavra demonstra, claramente, que a pessoa dotada de respeito é aquela que não esquece o que passou, não se esquece de quem ficou para trás porque envelheceu, morreu ou sofreu.
Geralmente se utiliza a palavra respeito para definir a atitude desejável diante de pessoas mais velhas, porque mais vividas, mais sofridas.
Merecem, por um cansaço físico, passar à frente nas filas, ter primazia nos transportes, receber atendimento prioritário em hospitais e bancos e em outros serviços públicos ou privados.
Isso não significa que devam ser tratados com pena, mas com dignidade.
Inclusive no mercado de trabalho.
Talvez não tenham a mesma força física.
Têm, entretanto, geralmente, mais sabedoria.
Viveram mais, experimentaram maiores perdas, amadureceram.
Mas também merece respeito a criança, um ser em formação.
O Estatuto da Criança e do Adolescente traz um corolário dos direitos de que são detentoras essas crianças.
Essa lei traz proibições inclusive para os pais e outros educadores.
Traz exigências ao próprio Estado quanto ao atendimento das necessidades das crianças.
Elas não podem ser humilhadas nem agredidas.
Em outras palavras, precisam ser respeitadas.
Merece respeito o trabalhador, independentemente de sua profissão.
Como é bom trabalhar em um ambiente em que as pessoas respeitam e são respeitadas, em que há hierarquia, mas não humilhação ou prepotência.
Merece respeito a mulher que não pode, por conta de uma desvantagem física (há exceções, é claro) se submeter ao marido agressor.
Multiplicam-se os casos de violência doméstica que causam indignação e dor.
A covardia do mais forte é intolerável.
Merece respeito todo cidadão, pelos impostos que paga, pelas obrigações que não pode deixar de cumprir.
Desrespeita o cidadão o político corrupto, o mentiroso, o demagogo.
Desrespeita o cidadão o político que age em interesse próprio ou aquele que é ineficiente na utilização do dinheiro que não lhe pertence.
Merecem respeito todas as pessoas.
E isso se aprende em casa, na escola, na vida.
E a melhor lição é que é possível vencer sem destruir os próprios princípios.
É preciso respeitar os limites, as diferenças, as perdas.
É preciso compreender que cada um é diferente.
Quantos há que querem mudar tudo em si mesmo, com a intenção de agradar ao outro.
Isto é falta de respeito próprio.
Será que o outro teria a mesma disposição em mudar tudo para me agradar? Se tiver, tome cuidado.
Quem não respeita a si mesmo não há de respeitar o outro também.
O mais interessante é que essas coisas são tão simples, tão óbvias e exatamente por isso merecem ser repetidas o tempo todo, como uma composição química testada e comprovada.
Porque o difícil é ser simples.
Respeito.
No laboratório da vida, vale nos dois sentidos: comigo e com o outro.
De mim para mim; do outro para o outro; de mim para o outro, e do outro para mim.
Revista Profissão Mestre, setembro/2007
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