Uma explicação
Uma explicação: o trabalho de jornalismo pode ser exclusivamente técnico, sem inspiração, apenas uma prestação de serviço de informação, ou pode ser diferente.
Cabe ao jornalista decidir.
Do contrário, é como o trabalho de um arquiteto ao planejar sua própria casa, casa dos seus sonhos.
Pode juntar a técnica com a inspiração.
O jornalista coloca a alma na matéria.
Embora entenda pouco de muitos assuntos que precisa informar diariamente, uma coisa é fazer matéria e se pautar para uso próprio.
E outra pra duas, três, quatro, 10, 20, 100, 430, 600, 1.000, 4.0000 pessoas.
Do mesmo modo, penso eu, com relação ao pintor retratista ao executar um trabalho encomendado no qual emprega toda técnica de que dispõe, mas, raramente, põe alma na execução do trabalho.
É, sem dúvida, informação, mas de pouca inspiração.
Assim acontece com o paisagista que passa para tela o que vê.
Arte de muita técnica.
Mas é, quando ele muda as cores, que entra a inspiração.
Independente da profissão, do cargo, só quando alguém inventa, idealiza, sonha, enfim, quando cria, entendo, então, que técnica e inspiração e grandes experiências se nivelam.
O mesmo acontece com o compositor, seja de música popular ou erudita, quando só produz o melhor se inspirado.
Quando é preso de uma espécia de transe.
Porém, quando muito recebe encomendas para produzir a trilha sonora de um filme ou uma novela, no seu trabalho, por estar adstrito ao roteiro, a inspiração, se houve, bitola.
Obra de pura técnica.
Nessa ordem de ideias, os jornalistas só produzem quando inspirados.
Fora disso solidificam versos de laboratório e um museu de grandes novidades.
Jornalismo a granel, como mercadoria.
Se tornam excelentes letristas de música popular de todos os povos.
Os jornalistas que admiro fazem dele meio de vida.
Produzem obras primas motivados por uma paixão, um desgosto, ou, até mesmo, por uma alfinetada do destino.
Todos esses caminhos levam ao bom jornalismo.
Se pesquisarmos e puxarmos a média de matérias antológicas que entraram nos livros acadêmicos, é de notar que um dos três fatores foi motivo na vida do jornalista para eternizar sua obra.
E é, justamente, em função que faço desta ideia, que não me acho nem um pouco jornalista perto daqueles que admiro.
Pra não contradizer a ideia que faço do jornalismo e segundo o conceito que faço de mim mesmo, decorrente de uma inspiração, ou, no mínimo, do desejo de externar uma sensação realmente existe, por benevolência, visto a roupagem de jornalista, bem folgada no meu corpo, aliás.
Os que admiro foram inspirados no que sentiram, por ocasião da morte, assim como por ocasião da vida.
Refletiram e refletem sobre o assunto em cada linha, a cada dia.
Os jornalistas que admiro de verdade jamais trocaram pautas compostas a seu gosto pelos passos de ganso da métrica.
A perpetualidade do bom jornalismo é tarefa árdua e cada vez mais desafiadora.
É tarefa de vida.
Pra quem critica e alega tanta "utopia" para a própria profissão que escolheu - se quiserem queimar vela com defunto barato - já antecipo que estarão repetindo o que digo de mim mesmo, como já disse numa linha mais acima, umas 15 linhas colocando o dedo na tela, talvez.
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