O resgate da cidadania
O resgate da cidadania
Resgatar o conceito de cidadania nas crianças e adolescentes brasileiros é um desafio e, por isso mesmo, o principal objetivo do programa Mutirão da Cidadania - lançado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
O objetivo é trazer à tona o sentimento de nação, de civismo, de solidariedade, de união e de amor aos valores dignificantes que têm sido cada vez menos apreendidos pelas novas gerações.
O Mutirão será composto por diversas ações que visam ampliar nos estudantes da rede estadual de ensino a compreensão sobre questões essenciais à sua formação pessoal e profissional.
A ética, a nobreza de caráter, o espírito de equipe, o respeito ao próximo e às suas diferenças de gênero, raça, credo e classe social, a preservação do meio ambiente - a começar pelo cuidado e valorização do espaço da própria escola -, o incentivo ao voluntariado e os estudos dos símbolos nacionais constituem as bases principais do programa.
Uma das medidas que adotadas para a conquista desses objetivos é o hasteamento da Bandeira e a execução do Hino Nacional nas unidades de ensino, todas as segundas-feiras.
A idéia é estimular a criação de espaços voltados ao resgate de valores ligados à vivência da cidadania, ao mesmo tempo em que a utilização da linguagem musical é otimizada como forma de expressão, comunicação e convivência.
O programa será desenvolvido por meio de parcerias com as secretarias da Justiça, da Cultura, do Meio Ambiente e da Juventude, Esporte e Lazer, além de instituições como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Procon e o Faça Parte.
Juntas, essas entidades trabalharão a consciência cidadã dos alunos, incentivando a participação ativa dos jovens tanto na escola quanto na comunidade.
Elas fornecerão orientações sobre a formação e administração de grêmios estudantis, a realização da coleta seletiva de lixo nas escolas - ressaltando a importância dessa ação para o ecossistema -, a criação de Bandas da Juventude nos estabelecimentos de ensino, a conscientização dos direitos e deveres do consumidor e o estímulo ao voluntariado, que se constituirá em exercício efetivo de solidariedade.
Acreditamos que a prática dessas ações será fundamental para a formação de cidadãos críticos que possam ocupar, definitivamente, um lugar de destaque nos cenários político, econômico, social e cultural do Brasil.
Vivemos numa sociedade mutante, diversa e repleta de peculiaridades.
Independentemente disso, o mundo todo atravessa um período de mudanças radicais que alteram o comportamento das pessoas provocando fenômenos sem precedentes na história da humanidade.
Basta lembrarmos o quanto a família se modificou adquirindo novos modelos de estruturação - o que não quer dizer que está mais presente na vida das crianças e jovens.
Ao contrário, paralelo às mudanças na estrutura familiar, o mercado de trabalho tem exigido cada vez mais de todos, tornando o tempo que os pais dedicam aos filhos mais escasso quantitativa e qualitativamente.
A carência afetiva é a porta de entrada para o recebimento de influências negativas do meio e da mídia - essas últimas por meio da exposição exagerada à televisão e ao computador, sem nenhum critério seletivo.
O resultado desse processo é evidente quando observamos a inversão de valores fundamentais à vida em sociedade, favorecendo o consumismo exacerbado, o culto exagerado ao corpo, da superficialidade das relações e a ascensão acelerada da violência e das drogas.
Com isso, o papel da escola hoje é muito mais amplo e complexo do que há algumas décadas.
Cabe a ela não só ensinar, mas auxiliar a formar o cidadão.
Outro fator importante de mudança está na universalização do ensino, que trouxe aos bancos escolares pessoas extremamente diferentes, muitas vezes provenientes de famílias desestruturadas e/ou com situação econômica precária.
Essas crianças, até há pouco tempo excluídas do ambiente educacional, necessitam de cuidados e atenções redobradas dos professores.
Com a política da escola pública para todos, a rede oficial precisou reestruturar a proposta pedagógica para acolher os mais variados perfis estudantis.
Nesse sentido, O Mutirão de Cidadania é uma ferramenta mais do que importante para garantir aos alunos uma formação mais adequada aos desafios impostos pelo século XXI.
Machado de Assis, o grande mestre da literatura brasileira, nos forneceu um alento para as adversidades quando disse: "Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os corrigir." Se depender de nossa vontade e de nosso esforço, a educação conseguirá, sim, cumprir sua função: ser a bússola para mostrar um norte, um caminho seguro em direção ao futuro.
Publicado no Diário do Grande ABC
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