ÉTICA PASSADA A LIMPO
ÉTICA PASSADA A LIMPO
Muito se fala sobre ética nos dias atuais.
O tema está na ordem do dia, tanto no meio acadêmico como nas ruas, em que se trata de temas cotidianos como a corrupção na política e a violência.
Nas universidades busca-se entender as razões pelas quais o ser humano é correto ou não; busca-se viajar pelas sendas da filosofia, onde pensadores de épocas diferentes tentaram responder se o ser humano é naturalmente bom ou não.
Há uma angústia recorrente dos filósofos em construir conceitos que ajudam a sociedade a viver melhor.
Protágoras, pensador grego que viveu entre 487 e 420 antes de Cristo, achava que ética era uma coisa empírica.
Cada pessoa, segundo ele, adotaria a conduta mais conveniente à sua própria escala de valores.
Para o pensador, o certo e o errado deveriam ser avaliados em função das necessidades do homem, e, portanto, os critérios de avaliação variariam de sujeito para sujeito.
Posição parecida, mas ampliada, adotaram dois sociólogos franceses, Durkheim e Bouglé, no século 19, que consideravam que os valores éticos (o certo, bom, justo, verdadeiro) são obtidos por apreciação coletiva, e, portanto, variam conforme o grupo focalizado.
Mas antes deles alguém definiu, com mais precisão, o sentido da palavra ética.
Foi Aristóteles, que afirmava existir um valor supremo, que norteia a vida das sociedades.
Esse valor é a felicidade.
Felicidade, em grego, é a junção de eu (bom) e demonia (espírito).
A corrente foi enriquecida, mais tarde, por outros filósofos que consideravam que a felicidade era o fim, o objetivo, e que a virtude era o meio, a ferramenta, para se alcançar a felicidade.
No meu livro Os dez mandamentos da ética, faço uma reflexão sobre a genial obra "Ética a Nicômaco", de Aristóteles.
Apresento os passos para que a ética seja vivenciada.
O primeiro é fazer o bem.
O segundo é agir com moderação, buscando o equilíbrio, eliminando os excessos.
O terceiro é saber escolher, e aí está implícito o favor de subjetividade que é preciso existir em cada conceito, porque cada ser humano é diferente do outro, e carrega sua experiência, sua cultura, que o torna único.
A questão, envolvida na escolha, é que a decisão, para ser boa, precisa levar em conta, necessariamente, os dois passos anteriores: fazer o bem e agir com moderação.
O quarto passo é praticar as virtudes.
Uma atitude essencial, porque não basta fazer o bem, agir com moderação e saber escolher, se a pessoa não se dedicar a praticar os valores que adquiriu.
Com isso, o quinto passo é praticamente automático: viver a justiça.
Quem segue os quatro primeiros passos aprende, incorpora o sentido de fazer as boas coisas olhando para o outro e para as necessidades do outro, sem esquecer de si mesmo.
Isto é a base da justiça.
O sexto passo é valer-se da razão, ou seja, da consciência, do pensamento analítico.
Está intimamente ligado ao sétimo passo, que é valer-se do coração.
Duas orientações que se complementam: a pessoa deve usar uma balança em que se equilibrem, com peso equivalente, o racional e o emocional.
As chances de que as escolhas sejam acertadas, agindo assim, são grandes.
O oitavo passo é ser amigo.
Quem é amigo aplica todos os conceitos que acabamos de ver, sem dificuldade.
O nono passo (cultivar o amor) é quase um corolário para o décimo (ser feliz).
Aí está, portanto, um rosário de recomendações que retira o aspecto generalista dos conceitos que historicamente acompanham as discussões sobre ética.
Norberto Bobbio, um dos grandes pensadores contemporâneos, por exemplo, aponta a honestidade como uma virtude válida para todos os homens, mas que, ao mesmo tempo, é uma atitude unida à conduta correta de uma pessoa no exercício da sua profissão.
Ou seja, o homem tem que ser honesto, mas o médico também tem que ser um profissional honesto.
É isso o que se diz nas ruas e em todos os lugares.
Este tema é fundamental na escola.
Um dos tantos objetivos da educação é ensinar a conviver.
E o convívio significa respeito, cooperação, ternura, enfim.
E isso é a ética.
A ética se aprende nos livros, nas lições dos grandes mestres.
E se aprende no cotidiano, no exercício de ser correto.
Bom seria se os pais dessem o exemplo primeiro.
Os filhos precisam de referências.
Que os políticos e as pessoas de alguma visibilidade também se preocupassem em viver de maneira correta e que na escola professores e alunos interagissem de modo a construir relações éticas que gerassem um clima de confraternização e cooperação.
E esse aluno-cidadão será um profissional-cidadão.
E portanto ético e portanto feliz.
Aliás, esse é o conceito já presente em Aristóteles: nascemos para ser felizes e para fazer os outros felizes.
Isto é a ética.
(Artigo publicado na Revista Profissão Mestre, edição de novembro de 2007)
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