A decepção e o colírio
Quem duvida que seja possível voltar a amar depois de uma decepção precisa saber que não só isso é, sim, possível, como também é possível passar a amar mais solidamente a mesma pessoa que causou a decepção.
Acredite: uma das decorrências mais importantes da experiência de decepcionar-se com alguém é que, justamente em razão disso, passamos a conhecer melhor esse alguém.
O conhecimento é um fruto benéfico da decepção.
Assim como o autoconhecimento.
O desapontamento indica que talvez houvesse uma ilusória expectativa, uma percepção falha da realidade do outro, um entusiasmo pelo amor sentido, sem uma visão clara do destinatário dele.
A decepção retira o iludido da cegueira em que se encontrava, pinga um colírio em seus olhos.
É uma experiência de “desvirginamento” da consciência.
Demovida de sua ingenuidade, a pessoa passa a ter os pés mais bem assentados no chão.
A vivência assusta, fere, causa dor.
Mas também deixa a vítima mais centrada.
A rigor, não se pode amar alguém que não se conheça por inteiro.
Em circunstâncias assim delineadas, na melhor das hipóteses ama-se o amar.
Quando a decepção acontece, surge a pergunta: “Onde estavam meus olhos, que não viam o óbvio?” Eis uma boa rota de reflexão.
É possível que os “olhos” estivessem voltados para dentro, não se ocupando adequadamente com o fator externo.
Há quem diga: “Mas ele (ou ela) realmente expressava coisas do meu agrado.
Como pode ter virado do avesso?” Pois é! Algumas pessoas se apresentam de forma especial, ou dizem sempre o que sabem que será bem recebido, deixando a sinceridade de lado, com o simples propósito de conquistar.
Sedução é um dos nomes que recebe esse expediente.
Mas é possível diferenciar quando se está diante de algo confiável ou de um engodo.
Uma dica: o “especial” da sedução não convence; é possível identificar a falsidade através dos sentimentos (a pessoa simplesmente estranha: “Ele me traz flores, mas isso me parece tão protocolar e impessoal! ”).
É possível também perceber a incongruência entre as coisas que uma pessoa diz e as que faz (como quando ela afirma que está aberta para ouvi-lo, mas tem os braços cruzados sobre o peito ao dizê-lo, num claro indício de distanciamento).
Mesmo em situações assim, porém, a partir do momento em que uma decepção é vivida com discernimento e maturidade, abre-se a possibilidade de o amor se estabelecer em bases mais confiáveis.
Passa-se a olhar para o outro como quem o vê pela primeira vez.
Àqueles que pensam ser impossível conviver com os aspectos ruins da pessoa descortinados por uma decepção eu repito: só se pode dizer que se ama verdadeiramente quando se ama a pessoa inteira.
Isso inclui não só a luz, mas também a sombra.
Basta que se pondere sobre a recíproca: quem se sentiria amado de verdade, se não fosse aceito em seus defeitos, dificuldades, deficiências, insuficiências e dores?
Existem situações, admito, em que se descobre ser impossível o convívio com as diferenças, em razão de serem inassimiláveis.
Acontece.
Agora, que a vivência de se decepcionar deixa a pessoa mais bem equipada para viver o mesmo ou outros relacionamentos — com pessoas inteiras como ela, feitas de sombra e luz —, isso deixa.
Decepção é como o colírio: deixa os olhos mais limpos para ver o outro.
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