Mas como me reviver
Mas como me reviver? Se não tenho uma palavra natural a dizer.
Terei que
fazer a palavra como se fosse criar o que me aconteceu?
Vou criar o que me aconteceu.
Só porque viver não é relatável.
Viver não é
vivível.
Terei que criar sobre a vida.
E sem mentir.
Criar sim, mentir não.
Criar não
é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade.
Entender é uma
criação, meu único modo.
Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo -
traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem sequer entender
para que valem os sinais.
Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse
acordada não seria linguagem.
Até criar a verdade do que me aconteceu.
Ah, será mais um grafismo que
uma escrita, pois tento mais uma reprodução do que uma expressão.
Cada vez
preciso menos me exprimir.
Também isto perdi? Não, mesmo quando eu fazia
esculturas eu já tentava apenas reproduzir, e apenas com as mãos.
in A paixão segundo GH pág 21
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