A Luta Nao Pode Esperar

A Luta Nao Pode Esperar
Crônica baseada na morte do estudante de Matemática da UFG, Guilherme Silva Neto de 20 anos.
Por Josielly Rarunny
               
                                     
Imagine um jovem alternativo e revolucionário, desses que defende suas crenças, capaz de lutar até a morte.
Literalmente.
Guilherme saiu numa manhã de quarta feira após uma briga com o pai, motivada pelo estilo do rapaz, causas sociais e políticas que Guilherme defendia.
O pai, engenheiro de 60 anos, conservador e depressivo não aceitava as atitudes do filho.
Proibiu Guilherme de participar da tal reintegração de posse que ocupava universidades e lutava contra as propostas da PEC 241.
Discutiram.
Discutiram feio por sinal.
Dessas discussões onde se ouve gritos, xingamentos e ameaças.
Saíram cada um para um lado.
Guilherme deu as costas e foi a luta.
Que a luta não pode esperar.
Quem sabe ele foi cantando a canção de protesto de Vandré.
Pra não dizer que não falei das flores.
A mãe na sala ao lado ouvia a discussão.
Em oração repreendia e preferiu não interferir.
Vai saber o que se passa no coração de uma mãe.
Aquela dor recolhida, aquele choro engolido, uma aflição que parece não ter fim.
Um anseio de ver a paz reinando no almoço em família do dia seguinte.
Um almoço que não acontecerá mais.
O pai tinha o tempo de esfriar a cabeça ou sacar uma arma.
Advinha o que ele fez.
Voltou para casa.
Encontrou apenas aflição e oração em forma de mãe.
O filho não estava mais.
Encontrou Guilherme numa praça perto de casa e disparou contra o filho quatro vezes.
Houve tumulto e gritaria.
Guilherme conseguiu correr, mas o pai alcançou o filho e com mais disparos o matou.
E com o mesmo tempo que ele levou para sacar a arma, debruçou sobre o corpo do filho, talvez arrependido da besteira feita.
Não quis ficar e lutar contra a justiça social e brasileira.
Que por sua vez nem é tão severa assim.
Preferiu antecipar o julgamento e a justiça divina.
Guilherme deu as costas e foi a luta.
Que a luta não pode esperar.
Quem sabe ele foi cantando a canção de protesto de Vandré.
Pra não dizer que não falei das flores.
Ninguém sabe, ninguém ouviu falar.
O  que todos sabem é que ele foi.
Infelizmente, pra nunca mais voltar.

#cronicas#josiellyrarunny 222

Mensagens Relacionadas

Crônica da Babinsk- Marcinha Babinsk

Crônica da Babinsk- Marcinha Babinsk
ÉRAMOS TRÊS
Éramos um casal composto por TRÊS pessoa…não está entendendo? Eu explico: morávamos no interior de São Paulo, eu e meu marido, sim fui casa…

(…Continue Lendo…)

#cronicas#marcinhababinsk

Cronica Natalina Que vontade de ouvir "noite feliz" (cantado pela Simone)

Cronica Natalina
Que vontade de ouvir "noite feliz" (cantado pela Simone). Comer peru com maionese amanhecida, esperar pelo Papai Noel descendo da chaminé (tenho que encomendar uma), ganhar um p…

(…Continue Lendo…)

#cronicas#karinagera

Crônicas de Uma Guarita

Crônicas de Uma Guarita.
Jamais escreveria isso se não tivesse uma certa habilidade com as palavras. . O escritor é por natureza criativa, um observador nato e consegue transformar um simples ge…

(…Continue Lendo…)

#cronicas#ionemorais

Cronica da Covardia

Cronica da Covardia
O maior exemplo de covardia é quando se deixa de cumprir um compromisso por puro egoismo, é quando uma única verdade absoluta é levada em consideração, quando não há verdadad…

(…Continue Lendo…)

#joseschmitslerfilho#cronicas

— Linette acha que seu dever e sua

— Linette acha que seu dever e sua vocação consistem em cuidar das pessoas em sua propriedade. Ela não quer ser Caçadora de Sombras. E eu… não ia querer, nem pedir isso dela. Homens e mulheres perecem…

(…Continue Lendo…)

#cronicas#livroascronicasdebane

Crônicas da Guarita II

Crônicas da Guarita II…:)
Eu nem estava podendo rir, pois me doía os pulmões, as costelas e otras cositas mas. No entanto, pude ouvir a conversa de uma senhora já idosa que estava ao meu lado. (…Continue Lendo…)

#cronicas#ionemorais