Eu não sou daqui

Eu não sou daqui
Qualquer pessoa que comece a escrever poesia irá, cedo ou tarde, usar como tema a sensação de ser um estrangeiro.
Em seus versos, dirá que não pensa como os outros, que tem a impressão de ter vindo de outro planeta, que não se reconhece entre seus pares.
Quem faz música também acaba falando sobre isso, mais dia, menos dia.
É um assunto que cativa, já que todos nós, em um determinado momento da vida (geralmente na adolescência) nos achamos, mesmo, muito diferente dos outros.
O psicanalista Contardo Calligaris, em sua recente palestra em Porto Alegre, no Fronteiras do Pensamento, disse que, quando garoto, tinha certeza de que os marcianos viriam buscá-lo em seu quarto, já que se sentia mais sintonizado com eles do que com sua própria família.
Não é exatamente uma novidade: o “eu não sou daqui” já foi frase recorrente na nossa cabeça.
E sejamos sinceros: alguns seguem pensando assim até o fim dos dias.
Contardo explica que, na puberdade, temos necessidade de fugir das nossas origens para que possamos criar uma identidade própria.
E que essa identidade nunca é lógica, ao contrário, é sempre embaralhada, por isso a importância de a gente, ao longo dos anos, aprender não só a viver bem, mas a contar bem a nossa história para os outros.
Aliás, o título da palestra era: A Ficção Como Linha de Conduta Para Inventar a Vida.
Quando ele diz que somos todos ficcionistas, não está sugerindo que somos todos uns fingidos.
O que eu compreendo disso é que, ao nascer, recebemos mais ou menos o mesmo dote: uma família, algum amor e alguns ensinamentos.
Para quem é um pouco preguiçoso ou carente de imaginação, isso basta como baliza.
Irá se satisfazer com o que foi recebido e contar sempre a mesma história sobre si mesmo.
Mas há os desassossegados de nascença: louvados sejam.
Para esses, a vida é um livro em branco, uma oportunidade desafiadora de criar o seu próprio personagem e enriquecê-lo com experiências, desejos, erros, acertos, alegrias, tristezas.
Qual é o maior presente que nossos pais podem nos dar, além de algum amor e algum ensinamento? É justamente essa fagulha acesa no olhar, esse espírito aberto, o empurrão para ir além do “prefácio” e buscar a construção de si próprio visitando outras galáxias – que nada mais são do que outras pessoas e vivências.
É através dessa matéria-prima que iremos estabelecer o fio da nossa narrativa, é que permitiremos que os outros nos conheçam – e que a gente se autoconheça mais um pouco também, através do olhar de fora.
É uma vida inventada? No melhor sentido.
É uma vida que se atreveu a ir além dos 10 mandamentos iniciais.
É uma vida regida por outros tantos: não julgarás os diferentes de ti, não criticarás o próximo sem antes ouvir suas razões, não te contentarás com o que aprendestes em casa, não evitarás estradas só por não saber onde elas levam, não abdicarás de conhecer mais a ti mesmo, não censurarás aquilo que não compreendes, não te acorrentarás ao que te dá segurança, não te conformarás com tua ignorância, não temerás a amplificação do teu universo.
Em suma, o “eu não sou daqui” é a frase dos que não se atreveram a desbravar o mundo, preferiram se manter estrangeiros por orgulho e por medo.
Só quando saímos do nosso esconderijo é que descobrimos que somos todos do mesmo lugar.

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