ASFIXIA

ASFIXIA
Escrevo estas palavras póstumas nestas linhas sem sentido afim de descrever todo o percurso transcorrido nestes últimos anos.
Não absorva toda esta melancolia, são só versos de solidão.
Agora tudo que resta é um punhado de folhas mortas, alheias a toda e qualquer movimentação que o mundo lhes ofereça.
Os móveis se enchem de poeira, camadas e mais camadas que se acumulam sobre o plástico que os devia proteger.
A vida que existia, se esvaiu completamente.
Eu por outro lado, sentia a cada dia um dor crescente que me consumia por inteiro e me fazia querer gritar até que as portas e janelas se rompessem, relevando todo o vazio que aquela casa demonstrava.
Era um sentimento sujo que me maculava a alma e transbordava todos os meus pecados.
Tudo o que sobrou foi encaixotado, na esperança da venda do máximo que conseguisse.
A casa foi posta à venda, e comprada muitos anos depois por um jovem casal que vinha de longe e não conhecia toda a história misturada com o cimento daquelas paredes.
Até as fotos foram jogadas fora mas estas foram resgatadas por mim.
Quando finalmente consegui encaixar todas as peças do quebra-cabeças, todas as que tinha, minha luta pareceu ser inválida.
Não importava a maneira que tentasse coloca-las juntas.
Nada jamais voltaria a ser como antes e o vazio me pressionava o peito a ponto de esmagar, me fazendo sentir e pensar em coisas para as quais nem consigo achar vocábulos descritivos.
O que ficou no final não era vida.
Não era viver.
Não era sobreviver.
A vida, essa palavra linda que sempre derrotou a morte no curso natural das coisas estava agora sem o mínimo valor.
O relógio continuava funcionando, pendurado na parede de uma sala escura em pleno meio dia, negra como minhas esperanças.
Os ponteiros giraram por incontáveis vezes até que as pilhas acabaram, e ninguém estava ali pra repor.
Iniciei sozinha um processo quase impossível de esquecimento, e nesta longa jornada, só a dor me acompanhou.
Os mais velhos conseguiram tocar a vida com bem mais facilidade que eu, como se nada tivesse acontecido, ou nada de novo sob o sol.
Andando em seus cavalos, se encontrando para o happy hour, para jogar bola com os amigos, ou apenas numa tentativa vazia de socializar o imcompartilhável.
Pareciam conhecer todo o roteiro daquela história, como algo já vivido nesta vida ou noutra.
Era um verão quente.
As mulheres usavam saias cada vez mais curtas que atraíam cada vez mais olhares.
Transcorridos pouco mais de cinco anos desde o dia em que cortei pela primeira vez os pulsos, espalhando todo aquele veneno pelo ar, naquele ar disforme em que eu mesma me contaminei.
A mim, a você e a todos a nossa volta.
O rio local teve um considerável aumento no cheiro de enxofre, talvez pela excessiva produção de fosfato, talvez o acúmulo das mentiras contadas, que criou uma bolha ao redor da cidade, fazendo com que todos se rendessem a seus pecados.
O que é certo é que dezenas de noivas desmarcaram seus casamentos, infelizes com o azar de ter escolhido uma data de que todos lembrariam negativamente, seja pelo odor ou pelos fatos.
Eu por outro lado, só penso em asfixia, por tudo que me tira o ar e me rouba o sono.
Como todo mundo, queria poder esquecer do que aconteceu.
Nada melhor do que não absorver.
As drogas funcionaram por um tempo, o álcool me mantinha entorpecida e os cigarros me ocupavam.
A boca, os dedos e o coração.
E a cada trago eu me entregava, sem a coragem de fazer o que você fez.
Tanta coisa que falaram de você ao longo de todos esses anos, mas ninguém nunca te conheceu como eu, ninguém nunca soube verdadeiramente a resposta.
Você nunca me ouviu, e ainda não ouve quando te chamo, quando grito por você nas madrugadas de pesadelos.
Sei que podia ter sido diferente.
Você deixou este quebra-cabeças pra que eu montasse mas não importa o que eu diga ou faça.
Sempre irão faltar peças.
A árvore que você gostava foi cortada e eu lamento por não conseguir impedir.
Queria ter dito que te amo, mas só percebi quando era tarde demais.
O fato é que depois de você finalmente percebi, um dia a gente vai ser apenas uma fotografia na estante empoeirada de alguém e depois nem isso.
PS: Estou indo te encontrar.
Thaylla Ferreira Cavalcante

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