DESAMPARO!

DESAMPARO!
As vezes me pego pensando, como pode um amor de mãe ser tão torto?
Sempre senti que a maternidade era algo divino, lindo, momento mais maravilhoso de uma mulher.
Mas que mulher? Há tantas!
Aquela que nunca foi amada.
Aquela que nunca teve um toque afetivo.
Aquela que foi obrigada a crescer antes da hora.
Aquela que se eternizou dentro das suas dores sem jamais fraquejar aparentemente.
Gerou também filhos, que um dia estava ligado apenas por um cordão umbilical.
Juntas respiravam juntas se alimentavam juntas sorriam juntas choravam.
Um amor por aquele feto invadiu, e ela sentiu pela primeira vez motivar e brotar um amor que parecia infinito, achou que amou, achou que eternizou, mas lá se foi uma utopia.
O cordão se rompeu, e houve o nascimento, aquele bebê desejado de repente invadiu um espaço imenso, espaço que não mais existia, pois o marido se afastou, a outra filha lhe exigia atenção, aquele bebê de repente era um fardo.
A necessidade financeira abalou mais ainda.
Aquele bebê era a cara do pai.
Pai que a mãe queria apenas pra ela, mas que roubou a cena.
Deixando-a um pouco de lado e se apegando mais a outra filha.
O bebê crescia e tamanha a semelhança com o pai invadia todos os comentários, e principalmente o afeto do pai.
O pai a traiu, e ela herdou aquela criança a cara do pai.
A criança perdeu o amor do pai, seu então único porto seguro.
Onde se perdeu aquele Amor? Aquele que ela achava que existia e que hoje procura de volta e não consegue encontrar?
O bebê cresceu, tornou-se mais independente que a irmã, se tornou uma mulher forte, que como ela, espelhada nela, era uma mulher de coragem.
Com menos dogmas e mais livre.
Como pode? Aquele ser que um dia esteve dentro de mim, mais livre que eu? Mais experiente que eu? O amor se esvaiu, acabou, findou…
Hoje só restam lembranças em fotos amareladas, e a certeza que se ainda existe uma fração daquele amor, deve ser mantido a distância pra preservação e durabilidade.
Aquele bebê que cresceu, virou uma mulher de coragem, também acha que pode amar, mas não quer cometer o mesmo erro, e no dia de hoje decidiu veemente não procriar, não colocar outro ser no mundo, que um dia o cordão umbilical será também cortado e que também não saberá o que é o amor, amparo, defesa, segurança…
Ela resolveu viver seus dias como der e vier um de cada vez, demonstrando o amor que sente, não pelo sangue, mas por pessoas merecedoras desse amor, cansou de tudo e hoje renova um pacto consigo mesma de apenas ser FELIZ!
Juliana Fernandes - 04/02/2014.

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