DIANÓPOLIS - TO

DIANÓPOLIS - TO
Sou nativa de uma cidadezinha do interior do Tocantins, Dianópolis.
Antigamente a cidade chamava-se "São José do Duro".
"Duro" era uma simplificação de "D´ouro", uma vez que a região era rica em ouro em seu subsolo.
Segundo estatísticas, a cidade conta com pouco mais de 19 mil habitantes, mas suspeito que essa população se multiplica em temporada, especialmente no carnaval.
Graças ao que os mais crentes chamam de Deus, não sei o que é passar fome, frio e falta de amor.
Meus pais sempre se dedicaram, e eu espelho, comecei a suar cedo para conseguir sobreviver à selva de pedras que eu enfrentaria quando saí da minha vidinha feliz e pacata.
Poderia descrever um draminha cheio de contexto, mas acho esse discurso de “minoria inspiradora” extremamente excludente, e quero poupar vocês de toda essa demagogia barata.
Hoje eu quero mesmo é falar da minha comunidade.
Conheço cada pedra daquela cidade, cada pé de jambo por mim saqueado.
Subidas íngremes para fortalecer a caminhada.
Como num Everest de chão de piche.
A cadência era sempre a mesma.
As casas sem muro, de cara com a porta.
As velhinhas sentadas do lado de fora, cachorros nas ruas, crianças, bicicletas… Aquelas cadeiras de mangueira, tamboretes ou troncos partidos em fatias que fazem lindos banquinhos ornamentais.
Estou falando de uma vila onde o povo faz comida e sai distribuindo na vizinhança.
Bolo, pêta, sirigado.
Comida mais cheirosa do que a do tocantinense não há.
Não sei se é o clima quente faz o cheirinho ficar curtido.
Que cheiro maravilhoso! É implacável: dá onze horas da manhã e a gente começa a sentir o cheiro do alho refogado.
Que vai evoluindo para a água fervente com Sazón, para o arroz secando na panela, para o feijão fumegante, para o bife acebolado no prato.
De tarde, cerveja.
E por estranho que seja, a gente bebe cerveja na sorveteria.
E fica ali na pracinha ouvindo Marília Mendonça ou alguma outra música da moda, geralmente quando alguém encosta um carro, mas se não tem som a gente canta.
Os pais bebem com os filhos e falam da vida dos outros e de futebol.
Temos um time da cidade.
Temos torcida e energia, sabe? Lá é o meu conceito de família.
De onde guardo as melhores lembranças e de onde levo os melhores amigos.
É uma tropa de gente que fala um dialeto todo particular, até quando escreve.
Tocantinenses casam-se com Tocantinenses, mesmo tendo provado bocas dos 4 cantos do mundo.
Estranho, não?
Povo bonito que só! Gente da gente, compreende? Que te cumprimenta e pergunta como estão os seus pais.
Fulano filho de quem? Identificamos todos por suas origens.
Minhas origens eu não nego, carrego, levo, exalto, multiplico.
Sim meus amigos! Eu sou do Duro com muito orgulho!

#ninnacarpentier#origens 230

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