Estava exausto
Estava exausto, porém motivado.
Liderava uma equipe técnica que tinha seus altos e baixos.
Sofria pressão por conta de falhas, prazos, clientes.
Clientes que pediam para falar com o responsável para agradecer pelo serviço prestado e clientes que ameaçavam de morte pelo serviço prestado.
Vivi dias bons e ruins naquele lugar.
Quando ela chegou, não tive interesse algum de imediato.
Não a achei atraente, não tinha um físico que causasse inveja nas outras, porém aquela peça no anelar direito era a prova que alguém viu algo nela que eu ainda não tinha visto.
Almoçávamos juntos quase todos os dias perto da empresa, ela tem um carisma que é raro de se ver, quase sempre com um sorriso no rosto, um pouco de sotaque lá do Sul.
Seu nome é Bruna, tem namorado, eles se gostam, ela sorri diferente quando ele a vem buscar no trabalho.
Comecei a perceber o sorriso diferente.
Ônibus, trem e outro trem para chegar ao trabalho.
Tempo de viagem suficiente para pensar muita coisa sobre a vida, o universo e tudo mais.
Não sou de me apegar às pessoas, amigos, família.
Talvez seja para não sentir falta quando acabar.
Às vezes chovia, chegava atrasado para abrir a empresa…
Aquilo se tornou maçante, chegava cedo, saía tarde, tinha problemas.
Por que eu insistia naquilo? Era vontade de crescer profissionalmente? Naquele lugar? Em que direção?
Chegava a melhor hora do dia, almoço.
Sentia liberdade de falar sobre qualquer coisa com ela, era uma amiga como poucas que eu já tivera.
Senti que tive oportunidade de ir além da amizade, duas vezes.
Deixei passar.
Um remix de “Called out in the dark – Snow Patrol”, tocava quase todos os dias enquanto ia para o trabalho.
Cheguei no meu limite, precisava me livrar daquela situação, não aguentava a raiva causada por algo que não me trazia grandeza.
No meu último dia de trabalho precisava terminar alguns relatórios e sairia mais tarde, deu a hora dela ir embora.
A abracei, me despedi, “- até qualquer dia”.
Voltei para terminar meu trabalho e não consegui.
Era a ficha caindo por estar deixando algo que eu me dediquei tanto nos últimos anos? Ou medo de como seria o dia seguinte sem aquele sorriso lindo e aquele sotaque encantador me dizendo Bom Dia? Com o passar dos dias, isso ficou claro.
Ela ficou noiva.
Me contou, ela também sentia que podia falar sobre qualquer coisa comigo.
A distância fez bem o seu papel, afasta o físico e amplia o pensamento.
Acabou o noivado.
Algum tempo passou, a vida precisa ser vivida, cada um à sua maneira.
Queria ser para ela metade do que ela era pra mim no meu dia a dia.
Mais uma vez senti que tive oportunidade de ir além da amizade, mais vezes.
Deixei passar.
As oportunidades nunca são perdidas, alguém vai abraçar.
SEMPRE.
Não foram meus braços.
Por mais que eu quisesse, não tenho o poder de controlar tudo.
Era a minha vida, era o meu tempo.
E deixei passar.
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