Pensamentos de Clarice Lispector

Não sei o que fazer do que vivi

Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra?!

Sou apego pelo que vale a pena

Sou apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer.

O pior é que sou vice-versa e em ziguezague

O pior é que sou vice-versa e em ziguezague. Sou inconcludente.
Mas é preciso me amar como involuntariamente sou. Apenas me responsabilizo pelo que há de voluntário em mim e que é muito pouco.

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Não sei amar pela metade

Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre.

Só tenho o que sou

Só tenho o que sou…

Quem eu sou

Quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles.

Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo

Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo.

(…)Mas não sou completa, não.
Completa lembra realizada.
Realizada é acabada.
Acabada é o que não se renova a cada instante da vida e do mundo.
Eu vivo me completando… mas falt…

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Não sou pretensiosa

Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando.

Sou uma árvore que arde com duro prazer

Sou uma árvore que arde com duro prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o mundo.

Não sei

Não sei, às vezes me parece que estou perdendo tempo.

As vezes eu faço alguma coisa proibida

'As vezes eu faço alguma coisa proibida, só pra me lembrar que eu sou livre.'

Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade

Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade.

Eu acho que quando não escrevo

Eu acho que quando não escrevo, estou morta

As vezes também penso que eu não sou

As vezes também penso que eu não sou, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro.