Poemas de Fernando Pessoa

Mas quem sente muito cala

Mas quem sente muito cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma, nem fala
Fica só, inteiramente

Minha dor é velha Como um frasco de essência cheio de pó

Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte d…

(…Continue Lendo…)

Às vezes ouço passar o vento

Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

O que me dói não é O que há

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão…
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as s…

(…Continue Lendo…)

Porque é que um sono agita Em vez de repousar O que em minha alma habita E a faz não descansar?

Porque é que um sono agita
Em vez de repousar
O que em minha alma habita
E a faz não descansar?
Que externa sonolência,
Que absurda confusão,
Me oprime sem violênci…

(…Continue Lendo…)

Meu coração é um balde despejado

Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada

Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias.

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos. (…Continue Lendo…)

Sorriso audível das folhas, Não és mais que a brisa ali. Se eu te olho e tu me olhas, Quem primeiro é que sorri? O primeiro a sorrir ri.

Sorriso audível das folhas,
Não és mais que a brisa ali.
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.
Ri, e olha de repente,
Para…

(…Continue Lendo…)

Já não me importo

Já não me importo
Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.
Nada me resta

POEMA EM LINHA RETA

POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
(…Continue Lendo…)

Uma névoa de Outono o ar raro vela, (5-11-1932)

Uma névoa de Outono o ar raro vela, (5-11-1932)
Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, na…

(…Continue Lendo…)

Não só quem nos odeia ou nos inveja Nos

Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenh a fria liberdade
Dos pí…

(…Continue Lendo…)

Livros são papéis pintados com tinta

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

O meu passado é tudo quanto não consegui ser

O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o te…

(…Continue Lendo…)

Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância

Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.