Poemas de Guimarães Rosa

O correr da vida embrulha tudo

O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim, esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz…

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Mas

Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. P…

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Há uma hora certa, no meio da noite, uma hora morta, em que a água dorme.

Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotõe…

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Dando

Dando, porém, passo atrás: nesta representação de "cano": - É um buraco, com um pouquinho de chumbo em volta…" - espritada de verve em impressionismo, marque-se rasa forra do lógico sobre o cediço con…

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Sertão é onde o pensamento da gente se

Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o lugar. Viver é muito perigoso…

Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era - ficar sendo!

Sempre vem imprevisível o abominoso

Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.

Mãe

"Mãe, o que é que é o mar, Mãe?" Mar era longe, muito longe dali, espécie duma lagoa enorme, um mundo d´água sem fim, Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. "Pois, Mãe, então mar é o que a g…

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O amor não precisa de memória

O amor não precisa de memória, não arredonda, não floreia:
faz forte estilo. E fim.

A gente carece de fingir às vezes que raiva tem

A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe d…

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Tem horas antigas que ficaram muito mais perto

Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.

Eu não sentia nada

Eu não sentia nada. Só uma transformação pesável.
Muita coisa importante falta nome.

No que vagueia os olhos

No que vagueia os olhos, contudo, surpreende-se-lhe o imanecer da bem-aventura, transordinária benignidade, o bom fantástico.

Quando eu morrer

Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração.

Digo

Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia